28 dezembro 2009

O crocodilo que se fez TIMOR

Como todos sabem, a ilha de Timor é chamada a ILHA DO CROCODILO, isto porque 0 seu território tem uma forma que aparenta o costado do dito bicho.
Esta verificação está vertida numa LENDA POPULAR MAUBERE - A LENDA DO CROCODILO, cujo texto, lindo,foi extraído do livro "CANTOLENDA MAUBERE" - TIMOR, de Fernando Sylvan, poeta/homem das letras, natural de Timor.

Reza a lenda segundo o citado autor:
(O texto é um pouco longo, mas acho que vale a pena)

"Disseram, e eu ouvi, que desde há muitos séculos um crocodilo vivia num pântano. Este crocodilo sonhava crescer, ter mesmo um tamanho descomunal. Mas a verdade é que ele não só era pequeno, como vivia num espaço apertado. Tudo era estreito à sua volta, sómente o sonho dele era grande.
O pântano, é de ver, é o pior sítio para se morar. Água parada, pouco funda, suja,abafada por margens esquesitas e indefinidas. Ainda por cima, sem abundância de alimentos ao gosto de um crocodilo.
Por tudo isto, o crocodilo estava farto de viver naquele pântano, mas não tinha outra morada.
Ao longo do tempo, milhares de anos, parece, o que ia valendo ao crocodilo era ele ser um grande conversador. Enquanto estava acordado, conversava, conversava ... É que este crocodilo fazia perguntas a si mesmo e, depois, como se ele próprio fosse outro, respondia-se-lhe.
De qualquer maneira, conversar assim, isoladamente, durante séculos, gastava os assuntos. Por outro lado, o crocodilo começava já a passar fome. Por dois motivos: primeiro porque havia naquele charco pouco peixe e outra bicharada que lhe conviesse para refeição; segundo, porque só muito ao largo passava caça de categoria e tenra: cabritos, porquitos, cães ...
Muitas vezes exclamava para si próprio:
- Que grande maçada viver com tão pouco, e num sítio destes!
- Tem paciência, tem paciência ... - dizia a si próprio.
- Mas viver de paciência não é coisa que alimente um crocodilo - recalcitrava-se-lhe.
Naturalmente que tudo tem um limite. Incluindo a resistência à fome. E o crocodilo entrou a sentir uma fraqueza que lhe quebrava o ânimo e o definhava. Os seus olhos iam-se amortecendo e já quase não podia levantar a cabeça e arir a boca.
- Tenho de sair deste lugar, e procurar caça mais além ...
Esforçou-se, galgou a margem e foi ganhando caminho através do lodo e, depois, da areia. O sol estava a pino, aquecia a areia, transformava todo o chão em brasas. Não havia safa, o crocodilo perdia o resto das suas forças e ia ficar , ali, assado.
Foi nessa altura que passou pelo sítio um Rapazinho vivaz que exprimia os seus pensamentos cantarolando.
- Que tens, Crocodilo, ah!, como tu estás?! Tens as pernas partidas, caiu-te alguma coisa em cima?
- Nõ, não parti nada, estou completamente inteiro, mas, apesar de ser pequeno de corpo, há muito não aguento com o meu próprio peso. Imagina que nem forças tenho já para sair deste braseiro.
Respondeu o rapazinho:
- Se é por isso, posso ajudar-te - e, logo de seguida, deu uns passos, carregou o crocodilo e foi pô-lo à beira do pântano.
No que o Rapazinho não reparava, era que, enquanto carregava o crocodilo, ele se animava ao ponto de arregalar os olhos, abrir a boca e passar a lingua pela serra dos seus dentes.
- Este Rapazinho deve ser mais saboroso do que tudo o que provei e vi em toda a minha vida - e imaginava-se a dar-lhe uma chicotada com a cauda para adormecê-lo e, depois, devorá-lo.
- Não sejas ingrato - diz-lhe o outro com quem ele conversava e era ele mesmo.
- A fome tem os seus direitos.
- Isso é verdade, mas olha que trair um amigo é um acto indigno. E, este, é o promeiro amigo que tens.
- Então, vou deixar-me ficar na mesma, e morrer à fome?
- O Rapazinho fez-te o que era preciso, salvou-te. Agora, se quiseres sobreviver, trabalha e procura alimento.
- Isso é verdade ...
E quando o rapazinho o poisou no chão molhado, o crocodilo sorriu, dançou com os olhos, sacudiu a cauda, e disse-lhe:
- Obrigado. És o primeiro amigo que encontro. Olha, não posso dar-te nada, mas se pouco mais conheces do que este charco, aqui, tão à nossa vista, e se um dia quiseres passear por ai fora, atravessar o mar, vem ter comigo ...
- Gostava mesmo, porque o meu sonho grande é ver o que mais há por esse mar fora.
- Sonho ... falaste em sonho? Sabes, eu também sonho ... - arrematou o crocodilo.
Separaram-se, sem que o rapazinho sequer suspeitasse de que o crocodilo chegara a estar tentado a comê-lo. E ainda bem.
Passados tempos, o rapazinho apareceu ao crocodilo. Já quase não o reconhecia. Via-o sem sinais das queimaduras, gordo, bem comido ...
- Ouve, Crocodilo, o meu sonho não parou, e eu não o aguento mais cá dentro.
- O prometido é prometido ... Aquele meu sonho ... mas com tanta caça que tenho arranjado, quase me esquecia dele. Fizeste bem em vir lembrar-mo, Rapazinho. Queres, agora mesmo, ir por esse mar fora?
- Isso, só isso, Crocodilo.
- Pois eu, agora, também. Vamos então.
Ficaram ambos contentes com o acordo. O rapazinho acomodou-se no dorso do crocodilo, como numa canoa, e partiram para o alto mar.
Era tudo tão grande e tão lindo!
O mais surpreendente para os dois, era o próprio espaço, o tamanho do que se estendia à sua frente e para cima, uma coisa sem fim. Dia e noite, noite e dia, nuhca pararam. Viam ilhas de todos os tamanhos, de onde as árvores e as montanhas lhes acenavam. E as nuvens também. Não sabiam se eram mais bonitos os dias se as noites, se as ilhas se as estrelas. Caminharam, navegaram, sempre voltados para o sol, até o crocodilo se cansar.
- Ouve-me, Rapazinho, não posso mais! O meu sonho acabou ...
- O meu não vai acabar.
Ainda o rapazinho não tinha dito a última palavra, o crocodilo aumentou, aumentou de tamanho, mas sem nunca perder a sua forma primitiva, e transformou-se numa ilha carregada de montes, de florestas e rios.
É por isso que TIMOR tem a forma de crocodilo. " citei

Abraço. Mateus

3 comentários:

Firmino Falcão disse...

Lendas e mitos dessa bela terra que todos adoramos! Um belo conto que o L. Mateus nos trouxe neste fim de Ano. Votos de um Bom Ano também para toda aquela gente de lá, o povo Maubere e aos que por lá passaram.

Fernando Vieira disse...

Tinha que ler para saber a história completa.
Só o amigo Mateus é que se lembra destas coisas...
Um abraço
Vieira

Unknown disse...

giro.